por Raíssa Couto / Ilustração Paloma Santos
Muito se discute sobre a falta de diversidade e inclusão dentro das empresas.
Tem inúmeros estudos que comprovam que empresas com uma cultura diversa e inclusiva
são empresas mais produtivas, inovadoras, criativas, competitivas e saudáveis. Mas como é fazer essa mudança na prática? Sabemos que mudar culturas é um desafio enorme e não é da noite para o dia.
As empresas ainda têm um longo caminho pela frente e por isso a importância de consultorias e especialistas no assunto para ajudá-las a construírem um plano efetivo de ações e metas a serem cumpridas.
Quando falamos em acessibilidade conseguimos mapear alguns caminhos possíveis, como:
investimento em acessibilidade digital, eliminando todas as barreiras web existentes; acessibilidade comunicacional, contratando intérprete de Libras, audiodescrição e legendas descritivas para reuniões, aulas e eventos da empresa; acessibilidade arquitetônica, extinguindo todas as barreiras físicas existentes e implementando espaços seguindo os princípios do desenho universal e acessibilidade instrumental, investindo em ferramentas para auxiliar no dia a dia de trabalho de algumas pessoas com deficiência como softwares de leitores de tela, por exemplo.
E quando falamos em capacitismo?
Vivemos em uma sociedade estruturalmente capacitista e o capacitismo leva à falta de acessibilidade, exclusão e invisibilidade das pessoas com deficiência.
Toda discriminação e preconceito contra as pessoas com deficiência exclui milhões de pessoas do mercado formal de trabalho. Em 2018, um estudo da RAIS (Relação Anual de Informações Sociais – Ministério do Trabalho) apontou que existiam 7 milhões de pessoas com deficiência aptas ao mercado de trabalho, mas que apenas 486 mil (7%) estavam registradas em emprego formal, e um relatório do IBGE divulgado em 2022 aponta que quando contratadas a remuneração é equivalente à ⅔ do salário das pessoas sem deficiência.
O capacitismo também impede o investimento em acessibilidade no mundo corporativo, assim como a implementação de projetos e iniciativas para pensar em políticas e ações que promovam debates e reflexões sobre equidade e diversidade.
Você possivelmente conhece a frase de Angela Davis, filósofa e militante:
“Numa sociedade racista não basta não ser racista. É necessário ser antirracista”.
Essa frase também vale para o anticapacitismo:
“Numa sociedade capacitista não basta não ser capacitista. É necessário ser anticapacitista”.
O anticapacitismo é a solução para empresas mais diversas, inclusivas, acessíveis e consequentemente mais inovadoras, estratégicas e com maior faturamento e margem de lucro. Uma pesquisa feita pela Accenture, em parceria com a Disability IN e a AAPD, tem como objetivo provar que não há apenas uma questão ética para inclusão da pessoa com deficiência nas empresas, existe também uma questão de negócios. Fizeram um estudo com 45 empresas com as melhores práticas em relação à empregabilidade, inclusão e retenção de pessoas com deficiência e comprovaram que elas tiveram uma receita 28% maior, o dobro do lucro líquido e margens de lucro econômico 30% mais altas do que seus concorrentes.
Por isso, investir em treinamentos especializados para os times de liderança e RH é um ótimo começo; realizar eventos debatendo esse assunto para toda a empresa; contratar pessoas com deficiência para ocupar cargos em todos os níveis incluindo cargos de alta liderança; implementar políticas de diversidade e inclusão além de comitês internos e grupos de afinidade e investir em acessibilidade.
Eu acredito muito na importância e poder da educação como instrumento de transformação e ela vai ser fundamental para que a gente caminhe para um futuro anticapacitista. O anticapacitismo é ferramenta na luta por uma sociedade mais diversa, ele reflete um amadurecimento nas discussões sobre inclusão e acessibilidade.
Mudar estruturas é um longo processo, mas é importante começar e ninguém está sozinho.
O mundo corporativo só tem a ganhar se ressignificando.