por Elza Maria Albuquerque / Ilustração Paloma Santos
Imagine só você acordar e perceber que o mundo mudou pra melhor. Um mundo em que as pessoas buscam se comunicar de forma cada vez mais humana, acolhedora, respeitosa, positiva e sem barreiras!
Imaginou? E como você se sente ao ler essas palavras? Por aqui, eu me sinto animada! Acredito que é possível construirmos esse mundo, mas precisamos de um esforço de todas as pessoas e instituições. E ainda de uma ação coletiva para uma mudança cultural em relação às formas de se comunicar.
A realidade é que, infelizmente, milhões de pessoas são excluídas por causa das barreiras na comunicação em diferentes situações, sejam elas conectadas ou não com o mundo digital.
Não faltam exemplos de exclusão. Menos de 1% dos sites brasileiros estão acessíveis. A informação é do estudo de 2022 do Movimento Web para Todos com BigData Corp e W3C Brasil (2022).
Vamos detalhar um pouco mais. Pessoas são excluídas de entrar em um site, de interagir socialmente, de compreender informações, de sair de casa, de fazer compras dos produtos que gostam, de estudar, de se desenvolver profissionalmente, de entender e assinar um contrato, de interagir com empresas, de acessar e compreender uma publicação nas redes sociais… e por aí vai.
É importante lembrar que as barreiras são ainda maiores se essas pessoas vivem exclusão econômica e social. Muitas vezes elas acessam menos recursos e tecnologias que facilitam a comunicação; ou ainda enfrentam barreiras linguísticas e culturais que dificultam a compreensão e a expressão de ideias.
Pessoas em situação de exclusão e que fazem parte de grupos minorizados enfrentam mais preconceitos que afetam como elas são representadas e percebidas na comunicação.
Nós temos o poder de mudar essa situação! Neste artigo, compartilho com você um início de conversa sobre o que é e qual a importância de construirmos uma comunicação mais diversa, inclusiva e acessível para todas as pessoas.
A comunicação e o contexto das barreiras
Nós produzimos e consumimos conteúdo o tempo todo. A comunicação está em tudo. Nós nos comunicamos de diversas formas, com pessoas diversas, em canais diversos.
Mas nós nos comunicamos com ou sem barreiras? Será que as pessoas compreendem tudo o que comunicamos? Será que compreendemos tudo o que as pessoas e o mundo comunicam? A resposta é: “Infelizmente não” para as duas perguntas.
Mas o que são as barreiras na comunicação? São desafios que podem impedir ou dificultar o processo de troca de informações e conhecimento entre as pessoas. Elas podem afetar a compreensão, a interpretação ou a recepção das mensagens transmitidas.
O desafio aumenta ainda mais quando tudo isso é realizado sem que as pessoas tenham consciência e conhecimento sobre as barreiras e necessidade de eliminá-las.
Por isso, que tal conhecer mais sobre as barreiras? Assim fica mais fácil construir uma comunicação mais humana.
Seguem, abaixo, algumas delas:
- Textos confusos e com palavras que dificultam a compreensão;
- Fontes muito pequenas ou com tipos que dificultam a leitura;
- Falta de audiodescrição, Libras, legendas nos vídeos;
- Vídeos com cortes muito rápidos – que impactam nos recursos de acessibilidade e na compreensão;
- Identidade visual e comunicação sem contar com diversidade. Como as pessoas vão se conectar com a informação?
- Comunicação violenta: quando nos comunicamos sem empatia e compaixão.
Mas o que é a comunicação diversa, inclusiva e acessível?
É uma comunicação para todas as pessoas em constante construção. Ela é formada por diversas boas práticas, técnicas e conhecimentos para uma comunicação mais acolhedora, justa e sem barreiras.
É uma comunicação que busca:
– informar sem excluir ou invisibilizar pessoas;
– trazer representatividade, criar conexão e acolhimento;
– possibilitar o acesso à informação.
Buscamos fortalecer as conexões e o diálogo entre as áreas da Diversidade, Inclusão e Acessibilidade para nos reeducarmos e fazermos escolhas mais conscientes quando nos comunicamos.
Exemplos de boas práticas e temas que fazem parte da construção dessa comunicação: acessibilidade digital (conteúdo, design, desenvolvimento), comunicação não violenta, escuta ativa, letramentos (étnico-racial, gênero, LGBTQIA+, geracional, entre outros), comunicação humanizada, comunicação positiva, entre outras!
Ah! É importante destacar a palavra “construção” na definição. Isso porque não podemos afirmar que existe uma comunicação 100% diversa, inclusiva e acessível. Existem muitas variáveis envolvidas no processo de comunicação, como a diversidade econômica, geográfica, cultural, linguística; de níveis de escolaridade, contextos sociais e emocionais, entre outros.
Além disso, as próprias pessoas envolvidas na comunicação têm características individuais que influenciam a compreensão e o entendimento mútuo. É sempre importante buscarmos formas de minimizar as barreiras e promovermos um diálogo mais respeitoso, aberto e inclusivo, mesmo sendo impossível garantir que a comunicação seja completamente livre de obstáculos.
Por que uma comunicação mais diversa, inclusiva e acessível?
Antes de mais nada: porque ela é urgente por um mundo melhor e mais sustentável. Existem muitos motivos para colocar essa comunicação em prática! Compartilhamos 8 deles para você saber:
A comunicação diversa, inclusiva e acessível:
1) possibilita o acesso à informação;
2) é direito de todas as pessoas;
3) alcança mais pessoas;
4) constrói uma sociedade mais humana e sustentável;
5) colabora na segurança física e digital das pessoas;
6) traz impactos sociais, econômicos, culturais e políticos;
7) cria conexões e proporciona o acolhimento das pessoas;
8) busca incluir todas as pessoas.
Como podemos transformar?
Selecionei algumas dicas para você começar a praticar a comunicação diversa, inclusiva e acessível hoje mesmo!
- Vai construir um projeto ou se comunicar? Inclua boas práticas de acessibilidade, diversidade e inclusão desde o início!
- Use a criatividade e transmita a informação de formas e formatos diferentes! Assim você aumenta as chances de ampliar o público!
- Conheça o seu público: é importante conhecer o público que você está se comunicando e suas necessidades específicas. Por exemplo, se você está se comunicando com pessoas cegas e com baixa visão, é importante considerar a inclusão de audiodescrição.
- Use uma linguagem mais inclusiva: evite usar termos que possam ser ofensivos ou excludentes, como palavras que reforcem discriminação e preconceitos. Explore as possibilidades da Língua Portuguesa para eliminar mais barreiras e alcançar mais pessoas. Alguns exemplos práticos: prefira termos institucionais ou que indiquem coletividade, reduza ou elimine marcadores de gênero nos contextos que forem possíveis sem comprometer a acessibilidade, pergunte para a pessoa como ela prefere ser chamada.
- Use uma linguagem simples e direta para que todas as pessoas possam entender a mensagem. Evite usar jargões ou termos técnicos desnecessários.
- Utilize diferentes formas de comunicação: pessoas têm diferentes formas de acessar e compreender a informação. Use diferentes formas de comunicação, como vídeos, imagens, áudio e texto para transmitir sua mensagem de maneira mais eficaz.
- Inclua acessibilidade nos materiais: certifique-se de que os materiais de comunicação, como sites, documentos e apresentações tenham recursos de acessibilidade. Considere recursos como legendas, audiodescrição e opções de contraste.
- Busque saber como a sua comunicação está: pergunte para as pessoas como você tem se expressado. Isso pode ajudar a identificar possíveis barreiras de comunicação e melhorar o alcance da sua mensagem.
- Aprenda sempre: a comunicação diversa, inclusiva e acessível é um processo em constante evolução. Busque sempre aprender e aperfeiçoar seus conhecimentos sobre o tema!
Te faço um convite
Te convido a conhecer mais as boas práticas e a colaborar para construir essa comunicação!
Ela é um caminho de cuidar e abraçar a pluralidade que somos.
Nós buscamos colaborar para que mais pessoas saibam e coloquem essa comunicação em prática.
Acreditamos que podemos transformar o mundo por meio da comunicação.
Conto com você nessa jornada! Vamos lá?
Elza Maria Albuquerque é idealizadora da Maria Inclusiva. Jornalista especializada em produção de conteúdo acessível, diverso e inclusivo; ativista por uma comunicação acolhedora, humanizada e sem barreiras.