Futuro anticapacitista: quem é o responsável?

Ilustração composta por vários rostos de homens e mulheres distintos entre si e em volta deles pequenas flores de girassol. O fundo da imagem é branco.

por Raíssa Couto / Ilustração Paloma Santos

É muito comum criar desculpas para não realizar algumas atividades. A gente se sabota e rapidamente inventa argumentos para deixar pra depois: “vou na aula amanhã, hoje estou meio cansada”, “putz… está chovendo, não vai dar”, “segunda feira sem falta eu começo com os meus exercícios”. 

Mas quando a gente fala de comportamento, o que você faz? Se sabota também? “Amanhã vou ser menos capacitista”, “no segundo semestre prometo que vou contratar uma pessoa com deficiência no meu time, esse foi muito corrido”.

Falar de comportamento envolve outras pessoas e precisa ser cuidado com muita atenção. Quando falamos em comportamentos capacitistas, por exemplo, qual a sua forma de perceber essa mudança? 

Hoje as redes sociais estão aproximando muita gente do debate, mas eu não sei dizer o quanto ele é o suficiente para uma mudança efetiva. Fizemos um post no mês passado no nosso instagram perguntando como as pessoas estão avaliando o resultado do debate sobre o capacitismo, já que ele está cada vez mais nas mídias. A resposta foi “muito pouco”.

Tem duas palavras que acredito serem muito importantes no processo de mudança para um futuro anticapacitista: Engajamento e comprometimento.

  • Como criar ações para engajar
  • Como engajar para comprometer

O primeiro é a essência da 7.1 que é a criatividade, é sair do óbvio, inventar caminhos e explorar possibilidades. A gente gosta de fugir do tradicional e buscar ferramentas para criar experiências intencionais para atrair mais aliades na luta anticapacitista.

O segundo não depende só da gente e isso é mais desafiador. Como comprometer alguém sem conhecer aquela pessoa, seu contexto de vida e suas referências? Não temos essa resposta, mas procuramos caminhos. 

Comprometimento é a palavra chave. Ele é a última etapa da nossa jornada que começa com o despertar, seguida de letramento, engajamento, para enfim, atingir o comprometimento. Se comprometer é agir o tempo todo, sem ele não há mudança, não há movimento, não há responsabilidade.

As consultorias existem para ajudar empresas e projetos a levantarem as suas necessidades ou resolver algum problema ou falta, identificar soluções, recomendar ações de melhoria, e claro, atingir melhores resultados. É nossa responsabilidade criar programas robustos e estratégicos para o cliente, mas já a entrega com um impacto positivo dentro daquele ecossistema é uma corresposabilidade de todas as partes envolvidas.

Qual o impacto quando o time de RH de uma empresa está muito engajado para implementar uma política de acessibilidade, contrata uma consultoria especializada, faz diversas reuniões para entender os formatos e as ações, mas todo o resto da empresa, incluindo as lideranças, não se envolvem e não entendem a importância do trabalho todo realizado.

Qual o impacto em desenhar toda acessibilidade de um evento, investir em ações super bacanas, mas o público, os artistas e convidades cometerem atitudes preconceituosas com o público com deficiência o tempo todo?

A responsabilidade não pode ser apenas da consultoria que está envolvida e nem apenas da produtora e do RH que está envolvido em realizar essas ações. A responsabilidade para a mudança de comportamento precisa ser de todas as pessoas, juntas.

Afinal, a luta por um mundo mais acessível e anticapacitista é coletiva.

Raíssa Couto é diretora da 7.1 acessibilidade criativa. Trabalha como consultora, produtora e especialista em acessibilidade criativa desde 2013, junto com empresas, projetos culturais e educativos. É produtora de impacto do filme Assexybilidade, segundo longa do diretor Daniel Gonçalves, trabalha como Dj em alguns eventos como festas e casamentos e toca percussão no carnaval de rua do Rio de Janeiro e de São Paulo.

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